quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Resenha - Paperboy (Pete Dexter)

Livro: Paperboy - Não existem homens íntegros
Autor: Pete Dexter
Editora: Novo Conceito

Quando eu li algumas partes da sinopse e opiniões sobre o livro e vi que a história era baseada em jornalismo investigativo já me chamou atenção por ser um dos gêneros literários que eu adoro. Quando soube que a história ia para os cinemas fiquei ainda mais curiosa para ler, coloquei o livro na minha lista de desejos. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro nesse ano o livro estava em promoção, então pensei: “Mais um motivo para que eu leia o livro, deve ser um aviso.” Adquiri o livro e quis logo começar a ler antes do filme ser lançado.
A história é contada por Jack James, o irmão mais novo do jornalista, Ward James, que vive e trabalha em Miami. Jack vive com o pai no condado de Moat, zona rural, interior dos Estados Unidos, onde o xerife Thurmond Call durante o cumprimento do seu dever matou 17 pessoas. Dezesseis delas eram negras. Na véspera de completar 67 anos, depois de 34 anos em sua profissão ele mata a 17ª pessoa. Ele algema sua vítima e depois o chuta até a morte. Esse homem, Jerome Van Vetter, era branco.
Nas primeiras horas da manhã seguinte Thurmond Call foi encontrado morto na estrada a poucos metros de sua viatura. Ele tinha um corte que ia da barriga até a virilha e foi deixado para morrer.
O primo de Jerome, Hillary Van Vetter, foi condenado por esfaquear o xerife num ato de vingança. Ninguém ficou surpreso com isso já que todos sabiam que a família Van Vetter cuidava dos seus, e Hillary Van Vetter era o membro mais feroz e imprevisível de todo a família.
A polícia foi à cabana de Hillary, sete dias depois do assassinato do xerife e encontrou uma faca ensanguentada e também uma camisa nas mesmas condições. E Hillary estava bêbado e feliz em uma banheira quando os policias chegaram. Assim, Hillary Van Vetter foi preso pelo assassinato. Em cinco meses foi julgado e condenado a morte mesmo tendo sido defendido pelo advogado mais caro do condado de Moat.
Os jornalistas, Ward James e Yardley Acheman saem de Miami e vão ao condado para investigar e publicar a matéria no jornal Miami Times. Eles são convencidos pela enigmática Charlotte Bless de se aprofundarem no caso dizendo que algo muito estranho tinha acontecido para condenarem Hillay Van Vetter. Ela tem certeza que ele é inocente. Essa mulher tinha a estranha mania de se corresponder com condenados a morte sem nem ao menos conhecê-los pessoalmente. Depois de ver uma foto de Hillary Van Vetter em um jornal no momento de sua prisão, algemado e sendo conduzido ao tribunal do condado de Moat ficou interessada e alguns dias depois escreveu uma carta e enviou para ele. Todas as correspondências que enviava ela fazia uma cópia e guardava em caixas com as iniciais do destinatário.
Na última parte da sinopse da Editora está escrito:

“Paperboy é um romance gótico sobre a vida aparentemente sossegada das cidades do interior. Um thriller tenso até a última linha, que fala de corrupção e violência, mas que, ao mesmo tempo, promove uma lição de ética.”

Tomei fôlego e comecei a ler o livro, terminei a leitura com fôlego de sobra. Não fiquei tensa, não entendi o que é ‘um romance gótico’ e não descobri qual é a lição de ética que o livro se propôs.
A sinopse nos engana, até mesmo falando que Jack James acaba fazendo uma investigação por conta própria e eu sinceramente, não vi isso no livro. Jack James está sempre com o irmão nas investigações porque Ward o contrata como motorista, e assim acaba conhecendo e se metendo nas histórias, mas não se aprofunda em nada sozinho. Na verdade esse personagem só nos conta a história de acordo com sua visão pessoal sobre todos os fatos, o que nos deixa na dúvida sobre vários pontos da narrativa porque como Jack não estava presente, nós também não vamos estar e vamos permanecer com as mesmas dúvidas que ele, e as curiosidades também. Ele basicamente acompanha seu irmão na investigação e não faz mais nada além disso.
A leitura é lenta, tranquila, sem grandes reviravoltas e poucas surpresas. É como uma história que nos é contada no fim de tarde em uma cidade do interior. Não sabemos se a história é verdadeira, se estão aumentando pra ficar interessante, porém vamos ouvindo e até gostando da prosa. No fim sorrimos e pensamos: “É, foi uma história legal”, vamos dormir e no dia seguinte esquecemos dela.
Não é um livro muito ruim, não achei, apesar de ser lento, cansativo. Mas é uma história para ler sem pretensões. Ao terminar de ler um livro realmente tenso, vale a pena pegar e ler “Paperboy”. Ele não vai ficar entre os melhores livros, mas também não fica entre os piores já lido.
O autor escreveu a história com começo, meio e fim. A história é bem costurada. E o fato duvidoso que ele levanta no final normalmente é como em toda matéria jornalística.
Os personagens são um tanto loucos, o autor não nos “apresenta” a todos completamente, mas não podemos esquecer que a história é contada em primeira pessoa, então os personagens são descritos de acordo com que vão surgindo e sempre com a visão de Jack James. Mas digo que os personagens são um pouco loucos por causa dos diálogos que muitas vezes parece que não vai nos levar a lugar nenhum e que nem eles sabem por que estão dizendo tal coisa ou para quem, parecendo muitas vezes que estão pensando em voz alta. Ou então o personagem que narra pode ser o grande desequilibrado da história.

Apesar de a sinopse ser melhor que a história, da narrativa ser lenta, de não poder considerar o livro como um dos melhores já lidos, eu indico a leitura. Mas como eu disse, leiam sem pretensões, em um momento que queiram “descansar” de uma outra leitura mais tensa.

“Eu estava tonto com o cheiro do perfume dela, e, embora não continuasse a me comparar sexualmente com aquele animal de maneira intencional, percebi que, em algum momento da história, nós, assim como os cães, ficávamos sexualmente excitados pelo olfato; além disso, há certos odores que, durante toda a vida, parece nos chamar à ação quando estamos sob sua influência.” (Pág. 48)

“’Desculpe’ é a coisa mais inútil do mundo – disse ele. – Um homem me pede desculpas, e isso só serve para piorar a situação.” (Pág. 107)

“– Você ainda não viu o que acontece quando se tem razão, Jack – disse ele – Quando compreende as coisas exatamente do jeito que elas são...
- O que acontece então? – perguntei.
Ele sorriu parra mim, como queixo engordurado brilhando.
- Faz com que seja possível suportar a situação – disse ele. E, por um momento, tive a impressão de que sua voz estava vindo da enfermaria.
- É impossível saber quem uma pessoa é, exatamente – eu disse, e aquilo pairou sobre a mesa, entre nós, por um longo tempo.” (Pág. 248)

“Terminei outra cerveja. Pareceu-me, naquele momento – sempre tive essa impressão -, que há pessoas que você reconhece intuitivamente como inimigos. E, na maior parte do tempo, como no caso de Yardley Acheman, eles o reconhecem. Além disso, mesmo que nada seja dito ou feito, a animosidade está lá, desde a primeira vez que vocês entram na mesma sala.
- Acho que somos inimigos naturais – eu disse.” (Pág. 277)

Sobre o autor: 

Pete Dexter é romancista vencedor do National Book Award, é de Michigan, nos Estados Unidos. Foi colunista do Philadelphia Daily News e do The Sacramento Bee, e articulista em revistas como Sports Ilustrated e Playboy. Vive em uma ilha na costa de Washington. Paperboy é seu único livro publicado no Brasil.

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